Vespera

SINOPSE

Eva tenta se conectar aos acontecimentos à sua volta, mas tem dificuldade em confiar na própria mente. “Estou sumindo”, ela diz. Enquanto participa de um ritual natalino com sua família, ocorre um blackout e a invasão de um vizinho os convocando para um movimento ideologicamente obscuro, “A Nova Ordem”. VÉSPERA fala da luta interna dessa protagonista procurando significados e conexões na velha ordem conhecida e nos novos eventos que teimam em se impor.

 

“Camila Appel chega à dramaturgia com diálogo firme, cena inesitante, estilo não realista e temáticas atuais que se delineiam a cada peça: a incomunicabilidade em tempo de revolução das comunicações e a solidão e a falência dos rituais sociais e institucionais que a mascaram. Em Véspera, todos os membros de uma família se vêm privados de energia elétrica à véspera da noite de natal . Sem solução tecnológica que possa garantir a festa, acabam se confrontando com seus reais conflitos e temores, os quais seriam camuflados pelo ritual natalino, como tantos outros rituais que nos amortecem por inércia ou tradição. Em torno, comandos inomináveis fecham quarteirões, ditam normas e editam leis confundindo a ordem conhecida e incitando à revolta, que no entanto os personagens não ousam encarar, paralisados que estão em seu pequeno reduto domiciliar, sem vistas para o outro, o lá fora, o desconhecido. É de uma solidão covarde e inviolável que se trata. Solidão a um, a dois, em família. Solidão que se teme e se renega mas é a única alternativa para o olho do furacão de um mundo incompassivo, onde só os vencedores são cidadãos de fato, a vida, um espetáculo de celebridades e o sangue alheio coisa sem serventia, que se derrama sem mais nem porém. Camila nos fala de gente reclusa em celulares e emails, abdicando do afeto presencial. De memória humana virando chip, descarnada de história e utopia e sem o menor tesão de, pelas lições pretéritas, invadir o presente e mudar o movimento do mundo. Mas a principal convicção dessa jovem autora é que, se a vida da gente não cabe num pen drive, cabe perfeitamente bem num palco”. 

Consuelo de Castro – Dramaturga